Mulheres na Logística: atuação, representatividade e desafios
A logística é um campo em expansão com muito espaço para o desenvolvimento de profissionais de várias áreas, principalmente pela importância que o setor tem adquirido nos últimos anos, em especial pelo desenvolvimento e digitalização das operações logísticas.
Porém, quando pensamos em representatividade feminina nos setores de logística e tecnologia, ainda é notado algumas restringências em relação à atuação feminina em determinadas áreas.
Recentemente nós realizamos uma breve entrevista com algumas mulheres das áreas de tecnologia, logística, e-commerce e varejo para apresentar uma reflexão sobre o que decorre os principais desafios das mulheres na logística, falando sobre equidade e maior inserção no mercado de trabalho.
O objetivo aqui é incitar um olhar para os desafios apresentados por essas mulheres e iniciar uma reflexão no que diz respeito a como podemos colaborar para reverter e evoluirmos nesse cenário, afinal, isso é uma responsabilidade coletiva, e não apenas das mulheres.
Os desafios das Mulheres na Logística
Entre as mulheres que responderam a nossa pesquisa, pouco espaço para inovação e gestão de processos foram apontados como os principais desafios, além de transparência na comunicação. Em relação a esses desafios, a maioria das mulheres considerou que pelo menos parte deles podem ter sido acentuados por questões de gênero.
Mesmo assim, boa parte das entrevistadas ressaltou a questão da alta competitividade do mercado como uma oportunidade de crescimento do número de mulheres no setor, que têm apresentado um crescimento nos últimos anos e adquirido ainda mais força na pandemia, como grande potencial gerador de oportunidades para muitas pessoas – momento oportuno para equilibrar essa conta no setor.
Sexismo, assédio e disparidades de gênero
Apesar de estarmos evoluindo e testemunhando um crescimento da inserção das mulheres no mercado de trabalho, ainda há muito a ser feito, é o que apontou a pesquisa “O ciclo do assédio sexual nos ambientes profissionais” realizada em 2020 pela consultoria de inovação social Think Eva com o LinkedIn, que mostra que o problema do assédio ainda é algo muito presente no mercado de trabalho.
Segundo o levantamento, quase metade das mulheres entrevistadas afirmaram já ter sofrido algum tipo de assédio, sendo o ambiente de trabalho o espaço onde isso ocorreu em 47% dos casos apresentados. Nesse sentido, é essencial que as lideranças das empresas compreendam que o assédio moral não é um problema individual, mas sim enraizado em um contexto sócio-econômico que produz efeitos negativos não somente na vida dos colaboradores, como também na própria empresa e na comunidade. Outro relatório, apresentado no evento Women in Tech, da CA Technologies, mostrou que apenas 8% das vagas de desenvolvedores no mundo são ocupadas por mulheres.
Quais as necessidades atuais para as Mulheres na logística?
Sobre as expectativas para os próximos anos para os mercados de Logística, E-commerce e Varejo, as entrevistadas foram bastante otimistas. Maior integração na cadeia e melhores análises do comportamento do consumidor são alguns dos anseios que se destacaram entre as profissionais que responderam a entrevista.
É assim que a P.O. Tássia Morgana Bernardo, idealiza a logística. Para ela, a cadeia de suprimentos deve estar “ integrada, sincronizando dados de estoque e vendas, análises de comportamento do consumidor e demanda de forma simplificada para que não falte o produto desejado”.
Outro ponto que apareceu entre as respostas das entrevistadas, a maior inserção de tecnologia ao longo dos processos para que ocorram com maior fluidez. Para Mariane Leal, gerente de trade marketing da Desinchá, que afirma que apesar da dificuldade de ter certa previsibilidade sobre o futuro, “a tecnologia e o neuromarketing estarão mais presentes do que nunca”.
Representatividade e empoderamento também surgiram entre as necessidades apresentadas pelas entrevistadas, além de trajetórias completamente diversas, o que só reforça a necessidade de irmos na contramão de qualquer tipo de preconceito.
Não é mimimi
A luta pela diminuição da desigualdade tem um potencial transformativo com impactos muito positivos para a economia no Brasil. É o que afirma os dados do relatório da Organização Internacional do Trabalho. Nele, estima-se que o crescimento da participação feminina pode expandir a renda nacional em até R$ 382 bilhões, com geração de receita tributária em torno de R$ 131 bilhões.
Mesmo com um olhar otimista para todas essas possibilidades, ainda hoje a participação das mulheres no mercado de trabalho é 20% menor que a participação masculina, segundo outro relatório elaborado pelo FMI. De acordo com o relatório, são vários os desafios enfrentados pelas mulheres. Mesmo assim, a maior participação delas no mercado de trabalho está diretamente relacionada ao crescimento econômico.
Estima-se que a inserção feminina seja maior que a masculina até 2030, é o que indica um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo a pesquisa, a conquista de direitos, mudanças culturais e aumento no investimento em educação pelas mulheres são alguns dos motivos para esse aumento.
Que as mulheres estão conquistando e reivindicando o seu lugar de direito no mercado de trabalho nos últimos anos, sobre isso não restam dúvidas. Porém, é necessário estar atento ao fato de que apesar disso, esse lugar continua esbarrando em discriminações de gênero, reforço de certos estereótipos e o questionamento sobre a capacidade de estar ocupando aquele espaço.
Para Thais Santos, que trabalha como Analista de Implantação, se sentir acolhida no ambiente de trabalho não tem preço. “Sou apaixonada pelo que faço e com certeza a tendência é ir muito mais além”, e complementa: “vou me preparar ainda mais, sem deixar de fazer as coisas que eu acredito e que me fazem bem“.